A doença da exaustão – esgotamento ou burnout – pode atingir qualquer pessoa.
No mundo da alta performance e do constante movimento, será que ainda é possível escapar desse mal do século?
A seguir estão alguns conselhos de especialistas.
Loïc, de 47 anos, está se recuperando de um burnout.
Após uma licença médica de seis meses, o executivo ingressou em um novo departamento do banco para o qual trabalhou por vinte anos. Menos responsabilidades, salário igual, mas bônus mais baixos.
A sua nova posição – negociada com os seus superiores – permite-lhe “recuperar gradualmente o seu equilíbrio”.
Ainda se recuperando, ele está tomando antidepressivos e consulta um psiquiatra regularmente.
Junto ao médico ele tenta entender como chegou até esse ponto.
Primeiro, ele passou a levar o computador do trabalho para casa nos finais de semana, lê seus e-mails até a 1h da manhã.
E então parou de dar atenção aos filhos e passou a responder à esposa em tom agressivo.
Até “perder o gosto pela vida”.
No entanto, ele é um bom pai, um funcionário entusiasta que não conta as horas que precisa permanecer no trabalho.
Loïc sempre foi visto como um lutador pelos que o cercam.
“Nunca pensei que isso pudesse acontecer com ele”, diz sua esposa Laura.
“Hoje em dia”, lamenta o psiquiatra Patrick Légeron, “todo mundo conhece alguém que sofre de burnout”.
É um fenômeno que não se limita ao mundo profissional.
Ouvimos sobre o esgotamento de uma mãe de família e também alguns padres testemunharam um cansaço profundo que acabou por fazê-los desmoronar.
Em seu livro Burnout, Christina Maslach, professora de psicologia da Universidade de Berkeley e criadora do “Maslach Burnout Inventory”, a ferramenta de medição usada para diagnosticar a síndrome do burnout, descreve o fenômeno como “uma verdadeira epidemia em muitos países”.
Então, estaríamos todos fadados ao esgotamento?
Como o burnout penetra no ambiente de trabalho?
“Não é culpa exatamente das pessoas”, diz Christina Maslach, “é o mundo e a natureza do trabalho que mudaram fundamentalmente”.
Na verdade, este julgamento pode parecer um pouco simplista, contudo, é difícil traçar um retrato do “candidato ao esgotamento”, tão diferentes são os perfis afetados.
Para o Dr. Philippe Rodet, autor de Getting free from stress (Se livrando do estresse, em tradução livre), “antes de procurar as chamadas ‘personalidades de risco’, podemos começar listando os principais fatores de estresse responsáveis por esta síndrome.
Porque o burnout é uma resposta psicoafetiva do indivíduo frente a estressores moderados, porém crônicos”.
De fato, o esgotamento no ambiente de trabalho é causado por fatores como dias sobrecarregados, a falta de controle e gestão sobre as próprias atividades, a falta de recompensas e reconhecimento pelos esforços realizados, a falta de coesão da equipe, o sentimento de não-equidade entre os funcionários, dentre outros.
Porém, no caso de Loïc, foi também a falta de autonomia quotidiana e a necessidade de “fazer sempre melhor com sempre menos” que o levaram ao limite.
Em seu departamento, dezenas de pessoas foram demitidas em três anos e, apesar de “vários pedidos de ajuda, tivemos que caminhar sozinhos”, diz. Situação que se alastra para um grande número de empresas.
Para Philippe Rodet, “a crise acrescentou uma forte camada de stress a uma já longa lista de fatores”.
Os estágios que levam ao início do esgotamento materno
O burnout é também facilmente transposto para a mãe.
“Uma mulher que tem vários filhos não para um segundo”, diz a responsável por apoiar colaboradores dentro do setor de Bem-Estar e Empresa.
Assim, o risco de exaustão é óbvio.
“Violaine Guéritault, psicóloga terapeuta e autora do livro Fadiga Emocional e Física das Mães: Burn-Out Maternal, aplicou às mães o modelo estabelecido por Christina Maslach.
“Encontramos os mesmos três estágios que levam ao aparecimento do burnout”, enfatiza. E antes de tudo, a exaustão emocional. Ao dar demasiadamente, ao estar disponível para todos, a mãe acaba se exaurindo. Para fazer frente a todas as demandas, ela contará com seu capital de energia. “Mas ele não é inesgotável!”, exclama Violaine Guéritault, que também é mãe.
O primeiro sinal de esgotamento materno?
“A exclamação de ‘Eu não aguento mais!’ assim que você sai da cama”, resume a psicóloga.
Porém, uma mãe, ao contrário de um empregado, não pode tirar alguns dias de férias ou pedir demissão.
“Para aguentar, ela irá, portanto, colocar-se em estado de alerta emocional”, continua.
Este é o estágio de distanciamento.
“Às vezes fico indiferente ao que pode acontecer com meus filhos”, testemunha Stéphanie Allenou em seu livro Mãe Exausta. “Se um deles tropeça, em vez de correr para ajuda-lo […], eu não reajo”.
Em seguida, vem a fase de depreciação.
“Sinto-me completamente estranha a mim mesma e totalmente fora de sintonia com a ideia que tenho de uma mãe “boa o suficiente””, testemunha essa mãe de três filhos pequenos, que voltou a escrever após vários meses difíceis.
Algumas pessoas, mais do que outras, correm o risco de exaustão
Para o esgotamento materno, alguns perfis são mais afetados do que outros.
Na linha de frente estão as mães sozinhas, mas também aquelas que idealizam muito a maternidade.
“Elas não alcançarão seus objetivos e ficarão mais facilmente decepcionados consigo mesmos”, diz Violaine Guéritault.
E quanto a mães que ficam em casa? “Mais isoladas e menos reconhecidas pelo mundo exterior, elas correm certos riscos. Mas quem trabalha corre o risco do excesso de trabalho e da falta de controle: não é fácil se sentir no controle quando seu filho está com 38°C e você tem que ir trabalhar!”, afirma a especialista.
Quer seja mãe ou não, a vítima do burnout é antes de tudo “alguém muito comprometido, muito sério”, nota Philippe Rodet, que retoma a ideia desenvolvida em 1974 pelo psicanalista americano Herbert J. Freudenberger, criador do conceito de burnout.
Ele acreditava que algumas pessoas, mais do que outras, corriam o risco dessa síndrome.
Principalmente pessoas exigentes consigo mesmas, com um forte ideal ligado à missão que desempenham.
Para Davor Komplita, psiquiatra suíço e especialista em transtornos relacionados ao trabalho, essa exigência afeta principalmente as pessoas de quarenta e cinquenta anos, porque “eles integraram os valores do trabalho à ideia da sua dignidade. Meu papel é ajudá-los a se distanciarem dessa noção de um trabalho bem feito que eles não conseguem mais realizar”.
Pequenas atitudes que podem ajudar a prevenir o esgotamento
“Nós, padres, também corremos o risco!”, exclama o Padre Joël Pralong.
10 anos atrás, ele sofreu um leve esgotamento.
Após uma fase “eufórica” em que já nem sentia mais o cansaço, chegando a escrever durante a noite inteira, ele desabou. “Eu só tinha um desejo: ficar sozinho e dormir… Mas eu simplesmente não conseguia dormir”, ele testemunha.
Com a ajuda de medicamentos e após várias semanas de repouso forçado, ele conseguiu se reestabelecer e se questionar.
“Ao contrário dos funcionários de uma empresa, eu não estava sob pressão. Mas eu não sabia dizer não”, analisa. “Então, eu estava vivendo a 320 quilômetros por hora. Eu estava tipo, ‘Não devemos ouvir a nós mesmos’, ‘Este é o chamado do Senhor’. Mas o Senhor precisa de homens de pé e sãos para ajudá-lo! Ele não nos pede que nos adoeçamos no cumprimento de nossa missão, mas que discernamos aquilo que é necessário e o que é supérfluo”.
Desde então, ele deixou de se dar “boas razões espirituais para sempre fazer mais e de tornar-se dependente da lei do perfeccionismo”. Seu conselho para seus irmãos padres?
Tenha o cuidado de colocar o sacerdócio em seu devido lugar.
“Somos canais da graça divina. Não permitamos que nossa consciência se acuse de não estar fazendo o suficiente”.
Perfeccionismo
O perfeccionismo, também é apontado por Anselm Grün, o famoso monge escritor, que recebe padres exauridos para curas de repouso em seu mosteiro da Baviera.
“Se eu acessar uma fonte obscura como o perfeccionismo, desperdiçarei minha energia buscando me conformar ao que se espera de mim”, observa ele.
É uma tentação que não poupa as mães.
“Isso está intimamente ligado à imagem de mãe perfeita veiculada amplamente pela sociedade”, destaca Violaine Guéritault.
Para aliviar a tensão entre um ideal elevado e a realidade, ela aconselha todas as mães a se perguntarem: “Qual é a pior coisa que poderia acontecer se eu não passasse todas as roupas, se não cozinhasse esta noite, etc?”.
Uma pergunta também facilmente transponível para as realidades do empregado cuidadoso ao extremo ou do padre perfeccionista demais.
Para Philippe Rodet, os sinais psicológicos mostram que as pessoas ficam fragilizadas diante do burnout.
“Porém, se soubéssemos como motivá-las, como recompensá-las pelo seu trabalho em um momento em que deram muito, evitaríamos tragédias”.
Agradecer ao pároco pelas homilias, felicitar um subordinado por um projeto, agradecer à mãe ou à esposa depois do jantar… tantos gestos fáceis e inofensivos!
Pense nisso!
Fonte: https://pt.aleteia.org
Postado por: https://aquitemtrabalho.com.br
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